A definição de Tempo, ainda que pelo dicionário ( pelo Cegalla- 2008) mostre a sua dificuldade de ser, de existir, epistemologia mais do que complexa. Afirma-se que é a sucessão de anos, dias, períodos cuja direção se específica. Fala-se até em “ disponibilidade” como expressamos : já faz um bom tempo. Também época de certos fenômenos naturais como : é tempo de manga. Divisão de períodos em futebol : primeiro e segundo tempos. Ou musicalmente : “ a mínima equivale a dois tempos e a semínima, é a um tempo”. Falar como : Há tempo no momento próprio. Ocasião propicia ou não ou em dois tempos farei...
Nem filosófica e cientifica, matematizavel – O Tempo é hipótese, faz-se um pressuposto para as várias limitações da realidade do aí - agora, do aí-então, do aí prático necessário. Em seu célebre “Metáfora Vive”, Paul Ricoeur afirma : “ deslocou o eixo interpretativo” o que se faz sempre com o tempo: é um deslocamento da mente. Que quer dizer tenho pouco tempo ou muito tempo? O tempo é uma dilatação da memória, um sentimento imaginável “Benidito Nunes e , em linha mais profunda, Wittgenstein chegam a concluir que o tempo é sucessão imaginável ou requerida dos fatos diários, generalizada, cronologia encadeada e feita pelo homem nos vários tempos desde a historia até hoje.” Enfim é o dia-a-dia dos acontecimentos entre dia e noite, claro e escuro, sol e noite com lua ou sem lua. Paul Ricoeur em seu difícil texto “ Da Interpretação” confirma : “ Tudo o que se conta acontece no tempo, desenvolve-se temporalmente, e o que se desenvolve no tempo, toma tempo, pode ser contado e a imagem e a imaginação funcionam”. É uma recíproca entre narrativo de como o tempo se especifica na medida das divisões que o homem criou para que a vida tenha lógica. Convenção para entender e não deixar o homem ( homens e mulheres) sem sentido do lógico. Ou seja : do não tempo. Daí todas as convenções : relógios, marcadores de dias, horas, minutos, eras, convenções temporárias entre as pessoas, relógios de todos os tipos, uma necessidade psicológica de não errar na realização dos acontecimentos.
O último dos pensadores antigos e o primeiro moderno – O africano Agostinho de Hipona e Tagaste, analisa o Tempo. O brasileiro José Américo Mota Pessanha abrindo o Livro XI das Confissões – O Homem e o Tempo explica: “ Agostinho começa a explicação do “princípio” do Gênesis, detendo-se especialmente nas palavras : “ no principio criou Deus o Céu e a terra”. Sobressai, nesse livro a celebre análise filosófica sobre a essência do tempo, questão ainda hoje obscura e controversa. Pedro Duhen na sua magistral obra” O sistema do mundo” louva a rigorosa precisão astronômica da teoria agostiniana do tempo” . Vejamos apenas um pouco. Em uma das divisões do africano sobre o assunto, - As Três divisões do tempo – Agostinho analisa : 18- contudo, dizemos Tempo longo ou breve, e isto só o podemos afirmar do futuro ou do passado. Chamamos “longo” ao tempo passado, se é anterior ao presente, por exemplo, cem anos. Do mesmo modo dizemos que o tempo futuro é “ longo” se é posterior ao presente também, cem anos. Chamamos “breve” ao passado, se dizemos, por exemplo, “ há dez dias” e ao futuro, se dizemos “ daqui a dez dias”. Mas como pode ser breve ou longo o que não existe? Com efeito, o passado já não existe e o futuro ainda não existe. Não digamos : “ é longo, mas digamos do passado : “ foi longo”; e do futuro : “ será longo”. Depois o assunto Tempo é de tal modo que não temos tempo e capacidade de analisá-lo miudamente. “
Nunes vendo o mesmo Agostinho em Confissões, explica : “ mas como não se pode dizer com propriedade há três tempos, a INTENTIO deverá condensá-los em um único momento : o presente do presente, o presente do passado e o presente do futuro”.
O relógio é a forma mais natural e mais científica, mesmo matemática, de averiguar o tempo presumível, tão existente quanto tão inexistente. Ao comentar sobre tempo há que se tratar de Einstein. A modificação da teoria “ espaço – tempo” do grande, cientista é famosa. Para Einstein “ O tempo é um aspecto da relação entre o observador e o universo ; uma variedade de datas pode ser atribuída ao mesmo evento, dependendo da escolha do observador. Substitui Einstein as leis de Newton. Einstein deu a maior contribuição desde do século XVII para a compreensão do espaço-tempo, ou tempo espacial e no seu trabalho final esse escrito teve um papel definitivamente subordinado. O ∞ como infinito não teve propriamente um sentido religioso- teológico mas expressou o indefinido total sobre o universalismo do seu tema “espaço-tempo” é o que chamava de “ princípio da covariância geral”. Lembra ,porém , que o célebre matemático Hermann Minkowshi é que surgiu com o conceito “espaço tempo”, Einstein desdobrou em novas formulações originais como a relatividade especial e também tornou generalizada a hipótese de Galileu de que o tempo gravitacional da terra transmite a mesma aceleração a todos os corpos que caem. Volta-se à Grécia...
Espaço é local, extensão indefinida, extensão de regiões. Tempo é a sucessão convencional dos anos, dias, horas, minutos, segundos que o homem houve por bem limitar para, psicológica e animicamente, não ficar confuso e confundido, mesmo enlouquecido... A base é o movimento da terra ( cada 24 horas estabelecidas) do sol ao redor : 32 km por segundo (30 vezes a velocidade inicial de uma bala de fuzil). Creio que desde Alexandre, Napoleão, os militares de todos os países, sobretudo da Europa, foram usando, entendendo nos seus serviços secretos como hoje CIA, a NKVD, Mossad etc.
Enfim, por mais que filósofos, pensadores, matemáticos, cientistas em geral limitem e delimitem o espaço é infindável e mal começamos a chegar à lua e planetas – extensividade ; o tempo é matematização e geometrização do homem como ser perceptível de si próprio e do seu habitat pluralizado. Einstein e outros formularam a ideia-fato de espaço-tempo. O medieval Eckardt formulou misticamente a ideia de tempo íntimo ou interior espiritual que, talvez, não soubesse ele que os místicos e gurus indianos, no budismo e neobudismo, Yôga é a mesma coisa. É ver Sir Aurobindo, Paramahansa Yogananda , a célebre yôga Mãe tinham a mesma formulação do homem medieval.
Fiquemos, assim, no tempo-espaço, vejamos que o tempo exige e que cheguemos e saiamos sempre “ em tempo” , mesmo que essas convenções durem desde o inicio da história e que os relógios, desde o relógio do sol, são de absoluta necessidade e que, hoje, sem surpresa, o que fazem celulares e computadorização em geral, o que fazem?
Estão refazendo ou inovando a ideia de tempo- espaço, fazendo no tempo um espaço vital e um novo espaço- tempo no velho tempo-espaço...
Adendo – Livros consultados – “Einstein o enigma do Universo” – Huberto Rohden. O que é o Tempo? G.J. Whitrow – Confissões, Agostinho de Hipona ( várias edições pessoais)
Germano Machado foi Professor da UFBA ( Universidade Federal da Bahia) e da UCSAL ( Universidade Católica do Salvador) . Fundador do CEPA – Circulo de Estudo Pensamento e Ação- Movimento Educativo Cultural.
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