segunda-feira, 14 de julho de 2014

A grande lavanderia

Por Antonio Alberto Oliveira Peixoto

Um dia desses, tomando cerveja e batendo papo em uma roda de amigos, falávamos sobre assuntos diversos. Cada um dos participantes tinha uma história mais interessante que a outra. Então, falador como sou, também resolvi manifestar minhas idéias acerca de um assunto atual. Afinal de contas, eu considero-me um espírito em constante evolução. Resolvi falar sobre a falta de cultura que assola este país. Mas este assunto, já está muito explorado... 

Decidi falar sobre a dificuldade dos escritores brasileiros. Eu mesmo, que escolhi a carreira literária, sinto profunda tristeza ao escrever livros em um país onde não se lê. Sabe-se que mais da metade da população brasileira não tem o mínimo necessário para ser considerada como alfabetizada, ou seja, a leitura seguida da compreensão, posicionamento crítico e contextualização da produção literária. 

Infelizmente, desisti, sei que não poderei dizer coisas boas, porque não há leitura e os programas educacionais que visam despertar o gosto pela leitura são ineficazes e os recursos disponibilizados pelo poder público são insuficientes. Não existe uma proposta real com objetivos, metas e estratégias específicas para a promover o hábito de ler. O jovem praticar leitura, como pratica vôlei, natação ou futebol. Só assim desenvolverá a habilidade e o gosto pela leitura.

 Pensei então que poderia falar sobre religião. Mas este assunto também, já está muito desgastado. Ultimamente transformaram os templos “em grandes lavanderias que lavam todo tipo de dinheiro sujo”. Hoje, qualquer pastor evangélico ou padre católico, pode chegar com um saco de dinheiro em um banco e depositá-lo como resultado do dízimo “pago”, no culto da noite passada. Dízimo não tem nota fiscal, não dá recibo e é totalmente isento de todos os impostos. Que saudade dos templos de louvar, adoração e real exercício da fé. Melhor mudar o assunto.

 Falar sobre política? Não, isso não. Iria me fazer lembrar dos escândalos noticiados todas as noites nos telejornais, da falta de ideologia e de ética. Recordaria do dinheiro dos nossos impostos, muitas vezes pagos com dificuldades extremas, que deveria retornar para a comunidade em forma de benefícios (saúde, educação, segurança, manutenção de rodovias, etc...), no entanto, está sendo desviado dos cofres da nação para contas em “paraísos fiscais” ou para o pagamento de mensalões, negociatas fantásticas e de todo tipo de corrupção. Lembraria também, que Brasília foi transformada em um grande Shopping Center, onde os políticos compram e vendem o que for mais conveniente aos próprios interesses.

 Decidi não falar. Paguei a parte que me coube na conta e saí fazendo uma reflexão, sobre as disparidades existentes em nosso país, terra de grandes homens que escreveram seus nomes na poesia e na política, homens que semearam a esperança, o acreditar em um novo Brasil, em um país de brasileiros sem roupas sujas, mas com cara limpa e com teto. Ah, o Brasil consolidado no compromisso, na ética e na ação cidadã. Nosso Brasil brasileiro, terra de samba e tecnologia de ponta, futebol e trabalho, de maravilhosas praias e moradia para todos, de belas mulatas e igualdade social, de fé e pleno exercício da cidadania, de ciência avançada e sem fome. Enfim, do Brasil que só sabe torcer para segurar a taça na COPA (digo: torcia), porque não necessita esperar mais por um político honesto.

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