sábado, 17 de outubro de 2009

Bicho-preguiça

Antonio Carlos Garcia

Em Aracaju, a capital da qualidade de vida, as conexões via internet não têm a mínima qualidade. Enquanto nas grandes capitais do resto do país as operadoras oferecem altas velocidades, por aqui essas operadoras parecem carroças. Ou não seriam bichos-preguiça, tamanha a lentidão? Estes bichinhos inofensivos que me perdoem, mas foi a melhor comparação que encontrei para narrar o meu drama de encontrar um modem que me fizesse ficar plugado com o mundo em alta velocidade. Pode ser que o problema que passo a contar seja o seu também. Sem a licença do Ibama - Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Bens Naturais Renováveis - e passíveis de multa, criamos um bicho-preguiça em casa, travestido em modem, que custa caro e, evidentemente, é muito lerdo. E, ao contrário do outro, nada inofensivo: este nos ofende em nossas necessidades.
Com uma boa história, começo assim. Era uma vez, e eu decidi que era melhor ter em casa um modem, pois no notebook poderia acessar a internet em qualquer lugar. Aí fui até a Vivo e comprei um modem, pois eles informavam que eu poderia usar no bairro onde moro, Luzia, com um mega de velocidade - o que é alta velocidade para Aracaju. Para minha decepção, na minha casa o bichinho não funcionou de jeito nenhum. Fiz outras tentativas, e não deu jeito. Um amigo, funcionário da Vivo, descobriu o problema: moro numa região onde tem muitos prédios e um pequeno morro, por isso o sinal não chega. E daí? Eu só quero um modem – e que estranho argumento este do embargo de morros e edifícios numa cidade de topografia dócil e prédios idem? Não quero mudar de casa.
Diante do confiável amigo, devolvi o modem, mas a conta veio como se eu o tivesse usado. Fui à loja da Vivo, que me informou que eu só iria conseguir me livrar da conta através deste estranho e desumano trem chamado Call Center. Pendurei-me no telefone, fiquei com cara de bobo e panaca por mais de uma hora, mas nada. E aí eu fiz uma pergunta e até hoje ninguém me respondeu por lá: pra que ter uma loja, se mandam a gente para tal Call Center, cacete? Bom, isso é história para outro artigo.
Mas voltemos ao xis deste drama topográfico. O problema é que eu precisava de um bendito modem. Trabalho com isso. Com ele. Então pensei: por que não tentar a TIM? E tentei. E esse nem deu sinal de vida – ah que saudade do bicho-preguiça!. Corri até a loja e fui devolver o aparelhinho preguiçozim, mas por insistência do dono da loja, que queria garantir sua comissão, fiquei com um modem lá em casa, e para nada. Não quis ser mal educado com ele.
Minha preocupação era devolver a pequena engenhoca inútil em tempo hábil, antes que fosse tarde demais. Seria um conflito medonho dividir o teto com o bichano lento-lentíssimo diante da incompatibilidade de gênios. Felizmente, consegui me livrar do modem-medonho da TIM. Fui à loja no horário em que eu sabia que o insistente dono não estava por lá e entreguei: tomem que este bastardo filho de vocês. Perdi R$ 30 para o dono da loja. E é pouco, é? Mas achei melhor assim do que voltar a vê-lo. Para completar veio uma conta. Elas – as operadoras – são todas iguais. Depois de algumas horas no chato Call Center, convenci a moça do outro da linha de que eu estava com a razão. Ora, por que pagar por algo que não funcionou?
E o que me restava nesta selva escuras de bichos-preguça? Claro que a Claro. Peguei minhas combalidas esperanças, rumei para lá e, assim como os outros, me deram garantia de que o serviço estava disponível para o meu bairro. Mas ao fazer os testes em casa, outra decepção. Não atendia às minhas expectativas. Era lento e a conexão não servia para usar o Skype e o Just Voip, sistema de telefonia via internet. Para mim não prestava, porque uso com muita freqüência esses dois sistemas. Mas achei que nem tudo estava perdido nesta terra de Macunaímas. Até que um cidadão acendeu uma lâmpada mágica e me deu a idéia: ‘Coloque uma antena no modem’. Comprei a dita antena e a coisa começou a funcionar da seguinte maneira: plugo a antena no modem, estiro um fio grande e penduro a bichana nas grades da janela do meu escritório.
Habitante velho de guerra desta ‘Pindorama, país do futuro’, pensei que a partir daí eu faria as pazes com a Claro. Aqui abro um parêntese para dizer que eu brigava com a Claro sozinho. Era uma briga platônica. O tempo foi passando e então eu percebi que o modem era temperamental, nada à imagem e semelhança do bichinho que se pendura nos cipós e arvoredos amazônicos, mas lento com ele. Nem com a tal antena eu conseguia velocidade. E meus negócios via Skype e Just Voip não vingavam. Mas aí como desistir, se eu já tinha assinado o pacto de fidelidade? Um divórcio a essa altura traria prejuízos para mim e, para completar, eu nem saberia a quem recorrer. Ficaria incomunicável com o mundo globalizado.
Agora as coisas funcionam assim: todos os dias quando vou conectar a internet pela Claro torço para que a luz do modem fique azul – que é quando indica que a conexão está boa. Mas parece que ela não quer nada comigo. Só fica verde, em baixa. E eu segurando-me para não ficar verde de raiva, um Huck. Como descobri que na parte externa do meu condomínio a conexão é melhor, ou seja, o modem fica azulzinho, pego uma mesa, uma cadeira, o computador e o modem com sua antenhinha e vou, coitado de mim, para a garagem onde guardo meu carro, e lá consigo me comunicar.
Pensa que esta história acabou? De jeito nenhum. Parece que tem um espião da Claro por aqui, porque nos últimos dias, mesmo da garagem do condomínio, não consigo me comunicar via Skype, porque a conexão não suporta o tráfego de voz. A tal luzinha fica verde na maior parte do tempo e não falo com ninguém. Diante disso, chego a uma conclusão: as empresas fazem o que querem com nós consumidores. Você se cansa de reclamar, porque passa uma hora ou mais no bicho chamado Call Center falando com as senhoras sisudas e impávidas gravações. E quando você consegue falar com alguém de carne, osso e alma pedem que aguardem por que ‘estamos transferindo sua ligação’. Nem sei o que as empresas citadas pensam a respeito de Sergipe e nem desta solene coisa chamada respeito ao consumidor. Em entrevistas, dizem que é um Estado promissor, mas parece tudo balela. Por causa de dois ou três prédios que me cercam e de um pequeno morro – e isto procede mesmo? -, não consigo conexão e eles não fazem patavinas. E continuamos todos pagando a conta na velocidade da luz por serviços na velocidade de bicho-preguiça. Dá pra ser feliz?
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Antonio Carlos Garcia é jornalista feirense, atuando no Jornal da Cidade, em Aracaju, Sergipe

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