quarta-feira, 31 de outubro de 2012
O ano que Fidel foi excomungado na ficção de Assis Freitas
O escritor Julio Cortázar certa vez comparou o conto à fotografia. Segundo ele, o contista, assim como o fotógrafo, sente necessidade de escolher e limitar uma imagem ou um acontecimento que seja significativo, onde somente o essencial e o indispensável ganham espaço, através da “eliminação de tudo o que não convirja essencialmente para o drama”.
Este recorte da realidade, este breve instantâneo, como num flash da máquina fotográfica, perpassa a narrativa curta característica da contemporaneidade. O escritor José de Assis Freitas Filho mergulha neste raso que inunda em seu novo livro: “O ano que Fidel foi excomungado” (Editora Penalux). São onze narrativas que desestruturam os limites entre a realidade e a ficção.
Na orelha do livro, assinada por Lalo Arias, há a clara advertência: “Temos aqui algumas canções de amor, daquelas que falam de mulheres que nunca existiram, a não ser na mente dos homens que são personagens deste livro. Algumas dessas mulheres flutuam, ou deveriam flutuar. Uma outra poderia ter mergulhado na enchente que passa em frente a sua janela, mas também não temos certeza que isto aconteceu. As mulheres que o Assis Freitas engendra são etéreas, fantasmas, mas também nunca vamos ter certeza disso”.
Neste universo quase crônica da vida urbana, quase poema do imaginário, como assinala o crítico literário Alfredo Bosi sobre a ficção do nosso tempo, as personagens do livro de Assis Freitas se movem como duendes, marionetes, seres naufragados em solidão, títeres de algum demiurgo. Ora aqui, ora ali, há súbitos encontros, desaparecimentos, um mergulho na condição inexorável do ser escritor. O autor se utiliza das personagens, ambiente, idéias e emoções criando uma tensão que organiza os fios de uma história e prende a atenção do leitor.
O conto que dá título ao livro – O ano que Fidel foi excomungado – é uma sensível e emocionada história sobre a perda de um pai. O narrador – Assis Freitas invariavelmente utiliza-se da narração em primeira pessoa – enumera fatos e acontecimentos que se misturam num mosaico para compor a figura daquele ente tão querido. E a pergunta que fica no ar: qual mesmo o ano que Fidel foi excomungado?
Em outra narrativa emblemática – Esta noite quero ouvir todos os blues – o escritor monta uma espécie de quebra-cabeças para um (im)possível relato de memórias: “o homem e o seu espelho e a sua estranheza, o não reconhecimento. A interrogação que jaz, como um quadro que ainda espera assinatura.” Como frisa Lalo Arias, “se a boa poesia (lembrem-se que o Assis é poeta dos grandes), no linguajar do boxe, deve ser um direto no queixo do leitor, esses contos são 10 ganchos no fígado. Senhoras e senhores, preparem-se para o nocaute”.
Sociólogo e mestre em Letras, José de Assis Freitas Filho tem dois outros livros de contos publicados: O Mapa da Cidade (Mac- 1998) e O Ulisses no supermercado (Prêmio CDL-2009). O escritor é servidor da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), lotado na Assessoria de Comunicação Social. O lançamento de “O ano que Fidel foi excomungado”, será realizado no dia 13 de novembro, a partir das 19h30, no Espaço Cultural Bar Flamboyant, localizado na rua Lázaro Ludovico 91, bairro Brasília em Feira de Santana. O livro também pode ser adquirido no site da editora: http://www.editorapenalux.com.br/.
Marly Caldas
Ascom/Uefs – 31/10/12
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