O governo de São Paulo vai pagar um tipo de “bolsa anticrack”, no valor de R$ 1.350 por mês por paciente, para tentar evitar que viciados que passaram por desintoxicação em hospitais e clínicas públicas tenham recaídas. O dinheiro não será entregue diretamente ao paciente, mas para comunidades terapêuticas (centros de acolhida de dependentes químicos, sem vínculo governamental) que serão credenciadas pelo Estado a partir deste mês.
O anúncio oficial do programa deve ser feito depois de amanhã pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) e está dentro do pacote de enfrentamento ao uso da droga. Cada paciente incluído no projeto receberá um cartão magnético que será usado para comprovar que ele passou um mês em tratamento na comunidade terapêutica. O programa, chamado de Cartão Recomeço, foi baseado em um projeto semelhante desenvolvido em Minas, o Cartão Aliança Pela Vida. Conforme o governo, na primeira etapa devem ser distribuídos cerca de 3.000 cartões.
Nos próximos dias, deve ser lançado um edital para credenciar as comunidades que farão os atendimentos. A expectativa é que os primeiros pacientes recebam tratamento a partir de julho. Nessas comunidades, entre elas algumas religiosas, os pacientes tratarão da abstinência, receberão qualificação profissional e vão se reaproximar de familiares e amigos. O tempo máximo de internação será de seis meses. “A ideia é preparar o ambiente para que ele possa viver longe das drogas, sem recaídas e perto de suas famílias”, afirmou o secretário de Desenvolvimento Social, Rodrigo Garcia, um dos responsáveis pela proposta.
As secretaria de Saúde e da Justiça são outras duas pastas que trabalham nessa ação. Em princípio, dez cidades de médio e grande porte de São Paulo terão comunidades credenciadas. Entre elas estão Campinas, São José dos Campos, Santos e Sorocaba. Religião A pesquisadora Clarice Sandi Madruga, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), vê com ressalvas a proposta da gestão Alckmin. Para ela, o tratamento não pode ser basear só no isolamento de pacientes em comunidades que tratam a abstinência por meio da religião.
“Só converter não basta. Para não recair, o paciente precisa de um tratamento que pense em recolocá-lo na sociedade”, disse. No país, há poucos estudos sobre a reincidência dos usuários de crack. Um deles aponta que o índice de recaída chega a quase 40% no período de um ano.
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