A sala está preparada para o julgamento. Num estrado, dominando todo o local, o juiz, bem abaixo, numa cadeira simples, o réu. Ele dispensou o advogado, pois pretende orientar sua própria defesa, tarefa nada fácil, pois as provas se acumulam contra Ele e seus próprios amigos o abandonaram.
O JUIZ começa a ler a peça de acusação: você é acusado de estimular as pessoas à desobediência civil, negando o valor de leis, costumes e tradições de nossa santa religião. Declara-se culpado ou inocente? E diante do espanto da assistência, o réu admitiu: culpado.
E AS ACUSAÇÕES continuaram: você é acusado de andar em companhia de pessoas não recomendadas: hereges, prostitutas, pecadores públicos e cobradores de impostos. Declara-se culpado ou inocente? E, mais uma vez, com tranqüilidade, admitiu a veracidade das acusações: culpado.
O TERCEIRO bloco de acusações era o mais consistente: você está sendo acusado de não respeitar o sábado, fazendo curas neste dia, é acusado de duvidar dos sagrados princípios de nossa fé, causando admiração e escândalo. Inocente ou culpado? Culpado. Está sendo acusado ainda de pretender perdoar pecados. Culpado ou inocente? E, mais uma vez, ele admitiu: culpado.
O JUIZ, solenemente, proferiu a sentença: diante da gravidade das acusações, admitidas por Ele mesmo, declaro o réu, Jesus de Nazaré, culpado e deverá sofrer a pena de morte por crucificação.
A CENA, imaginada por Antony de Mello, figura nos quatro Evangelhos. Mas os Evangelhos contam muito mais de Jesus. Não nasceu num palácio, mas numa estrebaria de animais. Não fez aliança com ricos e poderosos, mas escolheu os últimos da sociedade, os pobres, os doentes e os pecadores. Mas ainda: ensinou que era preciso perdoar os inimigos.
E DIANTE de tudo isso, teve morte lógica: acusado, condenado à morte de cruz, foi abandonado por todos. Nem mesmo possuía um túmulo e foi sepultado graças à generosidade de um simpatizante. E quando se acreditava que tudo havia acabado, Ele superou os domínios da morte. No terceiro dia ressuscitou e iniciou um novo tempo, uma nova moral, uma nova religião. E não esqueceu de oferecer a todos o perdão e a paz. Dizer Feliz Páscoa é crer neste Jesus e assumir o seu projeto de vida e seus ensinamentos.
Itamar Vian
Arcebispo Metropolitano
di.vianfs@ig.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário