O grego Esopo, 500 anos antes de Cristo, parece ter sido o inventor da parábola, pequena história, onde os animais externam sentimentos humanos. Outro representante do gênero é o francês La Fontaine (1621-1695). Essas fábulas têm atravessado gerações. Em geral, começam com a clássica “era uma vez”.
ERA UMA VEZ uma coruja e um gavião. Na confusa parceria do reino animal, o gavião e a coruja chegaram a um acordo, um tratado de paz, fortalecendo os dois grupos, sobretudo preservando seus indefesos filhotes. Bem intencionado, o gavião quis saber como eram os filhos da coruja. Meus filhos, explicou a coruja, são lindos, engraçados, são primores da natureza.
O GAVIÃO tomou nota. Dias depois, em sua caçada, encontrou um ninho e nele dois filhotes horríveis, mal feitos, tristonhos, mas saborosos. Ao constatar a tragédia, a coruja protestou contra a má fé do aliado. Não pode ser, tentou justificar o gavião, apenas devorei dois pequenos monstros, as criaturas mais feias que eu já vi.
AMAR os filhos é o primeiro dever dos pais. Mas, esse amor, precisa levar em conta a realidade. Amar não é apenas querer bem, mas querer o bem. Os filhos não nascem perfeitos em sua referência moral e psicológica. Eles precisam ser educados. E educar é indicar fronteiras. É saber dizer sim e dizer não no momento certo.
ANTIGAMENTE os pais eram autoritários. Hoje, autoritários são os filhos. Certas correntes educacionais sustentam que os jovens não devem ser contrariados. Nunca assistimos a crianças e jovens dominando tanto os adultos, sobretudo pais e professores. Os filhos se comportam como reis, cujos menores desejos devem ser atendidos.
O ESCRITOR e psiquiatra, Augusto Cury afirma: “Os pais devem aprender a dizer não a seus filhos, sem medo. Se eles não ouvirem não de seus pais, estarão despreparados para ouvir ‘não’ da vida”. No passado, noutra cultura, mas com a mesma lógica, se garantia: quando os pais não castigam os filhos, a vida se encarregará de fazê-lo.
EXISTEM pais que acham seus filhos os mais lindos e equilibrados. Eles estão sempre certos e por isso tomam a sua defesa, contra os professores e todos aqueles que pretendem educar de verdade. É a miopia da coruja, que nada ajuda aos filhos. Pelo contrário, os torna indefesos diante dos gaviões de que a vida está cheia.
TRÊS PALAVRAS erguem a estrutura da educação: amor, firmeza e diálogo. E quando nada dá certo, é preciso apelar para o perdão e recomeçar, com amor, firmeza e diálogo.
+ Itamar Vian
Arcebispo Metropolitano
di.vianfs@ig.com.br
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