segunda-feira, 2 de abril de 2012
Entrevista com Bel Pires
1ª Qual a principal proposta deste livro e de onde surgiu a inquietação para que ele fosse elaborado?
O livro tem como objetivo disponibilizar para o público leitor uma interessante síntese da produção baiana sobre história das populações negras, o que está concatenado com as recentes demandas curriculares acerca do ensino de história e cultura afro-brasileira e africana no Brasil.
A ideia do livro surgiu como celebração da criação do grupo de pesquisa Populações negras: Pesquisa e Extensão (CNPQ), o qual é formado por professores e estudantes da UNEB/Campus XIII- Itaberaba.
2ª Como se deu a escolha dos textos desta obra?
Primeiramente solicitei de cada professor membro do grupo de pesquisa um ensaio. Isto constituiu quatro capítulos. Em seguida convidei os colegas de outras universidades baianas que têm produzido sobre as populações negras e alguns destes inclusive têm orientado dissertações e teses nos programas de pós-graduação na Bahia.
Convidei ainda a professora Lucilene Reginaldo, especialista em estudos africanos na Bahia, para escrever o prefácio. Desta forma o livro foi composto por textos com abordagens distintas tanto do ponto de vista temático quanto metodológico, o que torna o livro uma publicação bastante rica.
3ª Qual a relevância no contexto atual das temáticas abordadas pelos autores que participam desta publicação?
Primeiro estre conjunto de ensaios históricos sobre populações negras constitui contribuição para implementação da lei 10.639 no currículo da educação básica, pois ainda temos grande carência de material bibliográfica que trate das experiências locais.
Por outro lado, o livro atende também a necessidade de bibliografia sobre populações negras na Bahia para atender as demandas dos próprios cursos de história oferecidos nas diferentes universidades baianas e brasileiras.
O fato do livro trazer diferentes abordagens e temas, isto também é relevante do ponto de vista de uma interessante síntese sobre a história das populações negras na Bahia desde o século XVI.
4ª Porque existe uma predileção por Salvador e pelo Recôncavo quando se levantam estudos sobre as populações negras na Bahia?
Os estudos sobre as populações negras na Bahia tiveram início por um conjunto de intelectuais que eram fascinados por Salvador e queriam entender a “Roma Negra”, era o caso de Nina Rodrigues, Manuel Querino, Edison Carneiro, dentre outros.
Por outro lado, havia uma predileção pelos trabalhos de religiosidade afro-brasileira que se dedicaram a estudar os tradicionais terreiros sediados na Capital e Recôncavo açucareiro.
Outro elemento é que os cursos de graduação e pós-graduação em História e Ciências Sociais estavam concentrados na capital, o que estimulava mais ainda a dedicação a estas regiões.
Com a oferta de cursos de graduação a partir dos anos 1980 e pós-graduação nos últimos anos no interior do estado, esta realidade começou a mudar e as experiências das populações negras no interior começaram a ser reveladas pela historiografia, o que ainda é muito recente.
5ª Historiadores com atuação em regiões distintas do estado e com objetos de estudo diversos compõe esta obra, qual é a importância desta mescla de olhares?
O mais importante é que estes trabalhos revelam outras Bahias para além da capital e recôncavo. As populações da diáspora ocuparam outros espaços e resignificaram neles as histórias e culturas que só podem ser reveladas com o desenvolvimento da história regional e local, desbravando outras sagas das populações negras na Bahia.
6ª Em que estágio se encontra a implementação da Lei 10.639/03, que trata do ensino de história e cultura afro-brasileira na educação básica?
O processo de implementação está andando a passos lentos. A lei foi criada em 2003 e conta hoje com poucos municípios empenhados na sua implementação.
As iniciativas públicas são muito tímidas do ponto de vista da envergadura do projeto de inclusão dos conteúdos de história e cultura afro-brasileira e africana na escola Básica. Entretanto, o impacto da lei já provocou mudanças, especialmente indiretas: o interesse dos jovens estudantes por temas afins, a oferta da iniciativa pública e privada de cursos de pós-graduação em história e cultura afro-brasileira e africana, o interesse por parte das editoras em publicar livros na área, etc.
Em 2008 foi criado o Plano Nacional para a implementação da lei 10.639, o que também já estimulou algumas ações a exemplo da reedição da Coleção de História Geral da África (UNESCO/UFSCAR/MEC), que inclusive está disponível para download. Mas tenho esperança que o governo priorize investimentos consistentes nesta área, o que ainda não aconteceu.
Elsimar Pondé
elsimar.elsimar@gmail.com
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