segunda-feira, 27 de março de 2017

Patrimônios materiais e imateriais guardam memória da Bahia

Museu Solar do Ferrão

Entre a conservação de imóveis, administração de museus, dinamização de espaços públicos, apoio a projetos sociais e muitas outras ações, os patrimônios culturais materiais e imateriais sob responsabilidade do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac) guardam a memória e contam a história do baiano. Tanto na capital, quanto no interior do estado, o órgão é também responsável por restaurações, consultorias, inventários, documentos históricos, tudo que guarde uma íntima relação com a Bahia ou ainda com a formação de seu povo. São inúmeras e muito diversas as atribuições do instituto que, neste ano, completa cinquenta anos de funcionamento.

 Segundo o diretor geral do Ipac, João Carlos de Oliveira, o aniversário da instituição remete a novos desafios para o futuro. “A preservação da cultura é uma política bastante ampla e, depois de cinco décadas de história, hoje temos que pensar em estratégia e gestão para os próximos 50 ou 100 anos. Entendemos que o processo de restauração não tem resultado se não houver um plano de gestão estratégica pensado para cada lugar, para cada museu, ou imóvel. E por isto queremos apresentar, ainda neste ano, como política pública, um projeto de distrito de economia criativa para ocupar estes lugares. Também devemos fortalecer as políticas no interior, nos aproximando das prefeituras, para elaborar estratégias para cada região”, contou o diretor geral.

 Ocupação de imóveis 

 Somente no Centro Histórico, em Salvador, cerca de quatrocentos imóveis estão sob responsabilidade do Ipac, utilizados para os mais diferentes objetivos. É o caso do casarão nº 22, na rua das Laranjeiras, no Pelourinho. O local passa por uma reforma para se transformar no Pouso das Artes, uma residência temporária para receber artistas do interior, de outros estados e estrangeiros que venham a trabalho para Salvador e não tenham hospedagem. Serão dois apartamentos prontos para abrigar quem esteja em atividades como intercâmbio, formação, criação, difusão, pesquisa e memória das artes. Com uma equipe de dez pessoas tem trabalhado diariamente para deixar tudo pronto, a obra está em fase de ajustes, como pintura, colocação de portas e recuperação de parapeitos. Resultado de uma parceria com a Fundação Cultural do Estado da Bahia (Funceb), a previsão é que a casa esteja pronta em julho deste ano.

 Em frente ao Pouso das Artes, outro imóvel que pertence ao instituto também está ocupado, funcionando com a sede do Projeto Axé no Pelourinho, ação do projeto “Dei Valor!”, do Ipac. No casarão a organização não-governamental atende, diariamente, cerca de duzentos jovens para aulas de música, artes plásticas, artes visuais, informática, tudo gratuitamente. Para a gerente pedagógica e administrativa do projeto, Luciana Xavier, ter o apoio do Instituto é fundamental para a manutenção das atividades. “Como não temos fins lucrativos, sem esse espaço cedido, não teríamos como pagar por uma estrutura física como essa. Atendemos jovens aqui em situação de vulnerabilidade social e se não fosse por este prédio não conseguiríamos atender a quantidade de meninos e meninas que temos aqui hoje”, contou Luciana.

 Restauração 

 Segundo o diretor geral do Ipac, João Carlos, a atividade de conservação dos imóveis é a mais lembrada pela população baiana, mas os trabalhos não se resumem a ela. “As pessoas estão muito acostumadas a pensar em prédios e edificações tombadas quando se fala em conservação, a pensar em móveis e artes antigas quando falamos em restauração, mas existe uma outra vertente que é do patrimônio imaterial. São aquelas manifestações culturais que fazem parte da construção identitária da sociedade, e tudo isso também está sob responsabilidade do Ipac.

 Especificamente para a conservação das riquezas materiais, a Coordenação de Restauro de Elementos Artísticos (Cores) mantem, também no Pelourinho, ateliês que cuidam de móveis, pinturas, esculturas, arte em papel, documentos, lustres, fachadas, arquiteturas. O trabalho, que envolve cerca de quarenta profissionais, é para manter a ideia e forma original dos artistas, independentemente da idade das peças. Para a coordenadora da Cores, Kátia Berbert, a tarefa vai muito além da restauração. “Trabalhamos aqui principalmente com a conservação, a preservação e temos a restauração como última instância para nossas atividades, porque temos apostado num trabalho preventivo. O ideal é que cuidemos dos nossos patrimônios para que eles não tenham que ser restaurados. Mas, para todos aqueles que tiverem que passar por restauração, estamos prontos para recuperar e cuidar de nossas riquezas materiais”, contou a coordenadora.

 Administração de museus 

 O Ipac também responde pela administração de largos, praças, e museus como o Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM), Museu de Arte da Bahia (MAB), Palacete das Artes, Museu Udo Knoff de Azulejaria e Cerâmica, Museu Tempostal e Centro Cultural Solar Ferrão, na capital. No interior do estado, responde pelos museus dos Humildes, em Santo Amaro, do Recôncavo em Candeias, e pelo Parque Castro Alves, em Cabaceiras do Paraguaçu.

 No Centro Cultural Solar Ferrão, localizado em um casarão tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), estão a Galeria Solar Ferrão, o Museu Abelardo Rodrigues e três coleções: a de Arte Africana Claudio Masella, a de Arte Popular e a de Instrumentos Musicais Tradicionais Emília Biancardi. Este mês, em homenagem ao aniversário de 468 anos de Salvador, o destaque do acervo do Abelardo Rodrigues é uma imagem do padroeiro da cidade, São Francisco de Xavier. Segundo a museóloga e responsável técnica pela coleção do museu, Jorma Souza, conhecer os acervos é também conhecer a própria história. “As pessoas costumam pensar à imagem de Senhor do Bonfim, mas não é. O São Francisco de Xavier que, no século XVII, foi considerado o responsável por livrar a cidade de Salvador de uma série de doenças, pois ele havia morrido de febre amarela”, explicou a museóloga.

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