sábado, 9 de abril de 2011

Lances da ditadura 4


Edson Borges e o saudoso Chico Pinto

Final da década de 70, o general Moraes Rêgo, um dos mais destacados no comando do Exército, estaria presente numa solenidade no 35º Batalhão de Infantaria, sediado em Feira de Santana, a segunda maior cidade da Bahia. A proposta de anistia ampla, geral e irrestrita ganhava corpo a cada dia e o general tinha uma opinião de peso a respeito do assunto, sendo favorável. Por isso, o editor do Feira Hoje na época, jornalista José Carlos Teixeira, determinou a cobertura do evento e, claro, uma entrevista com o militar. O chefe de Reportagem do diário, jornalista José Fernandes, me escalou com a fotojornalista Rosa Maria para o trabalho. A solenidade aconteceu num palanque armado no grande pátio frontal do 35º Batalhão. Em seguida, todas as autoridades e a imprensa foram convidadas para um coquetel, no andar superior do prédio do comando da unidade, onde também aconteceria a entrevista coletiva com Moraes Rego. Um grande grupo subia as escadas. Eu era um dos últimos, bem lá atrás, quando um militar (não me recordo a patente) me segurou pelo braço e disse: - Você não vai subir Perguntei qual o motivo de estar sendo barrado, argumentando que outros colegas da imprensa, inclusive a fotógrafa do jornal que eu trabalhava, já estavam entrando na sala do coquetel para a entrevista com o general. Ele não apresentava nenhuma justificativa e apenas repetia que eu não subiria, me segurando pelo braço. Fiquei indignado com aquela atitude. Comecei a falar bem alto e a forçar a subida, mesmo ele me puxando pra baixo. Eu praticamente já estava gritando que ia subir, sim, pra participar da entrevista, quando apareceu no alto da escada um tenente (não lembro o nome) que era relações públicas do batalhão. - O que está havendo, o que é isso? - Esse cara está me proibindo de participar da coletiva – respondi - Deixe que eu cuido disso, deixe comigo – disse o tenente ao militar, que só assim resolveu me soltar. Cumpri meu trabalho, tomei uns drinques e, quando descia pra ir embora, percebi o militar postado no pé da escada, olhando firmemente pra mim. Passei por ele e falei: - Eu não disse que eu subia!? Ele me acompanhou, sem dizer uma palavra, até a saída do Batalhão. E até hoje eu não sei porque ele me escolheu pra ser barrado na entrevista. Se é que ele tinha realmente um motivo.

Os jornalistas Edson Borges e João Falcão

Em tempo: Muito estranha o final da nota Lances da Ditadura do jornalista Edson Borges na época Edson Fellone quando afirma que até hoje não sabe porque foi escolhido para ser barrado na entrevista do General Moraes Rego. Edson Borges era ligado ao PC do B partido clandestino na época, além de ser admirador de Chico Pinto, um dos grandes lideres que resistia ao regime militar que comandava o país. Edson Fellone era chamado pelos companheiros de militância politica de “Chico Pinto” devido a sua semelhança física a barba e nos discursos dos movimentos estudantis em Salvador e Alagoinhas, sua cidade natal.

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