quinta-feira, 30 de abril de 2015

Mais de 200 famílias recebem assentamentos sustentáveis em Prado

Foi com a abertura das porteiras da Fazenda Colatina, na manhã desta quinta-feira (31), que agricultores familiares do município de Prado, no extremo sul do estado, tomaram posse de cerca de quatro mil hectares de terra onde estão assentadas 227 famílias. Além de abrigar o assentamento, que recebeu o nome de Jacy Rocha, na fazenda é desenvolvido o Projeto Assentamentos Sustentáveis com Agroflorestas e Biodiversidade, fruto de uma parceria entre o Governo do Estado, o Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST), a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP) e a empresa Fibria Celulose, a quem pertencia a propriedade onde atualmente fica o assentamento. 


Para dar a posse aos assentados, o governador Rui Costa entrou pelas porteiras da fazenda, junto com os ministros de Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias; da Defesa, Jaques Wagner; além de secretários estaduais e outras autoridades. Eles foram acompanhados pelas famílias que tiveram a posse de terra regularizada, agricultores familiares de outras áreas ocupadas e já assentadas, além das famílias que vivem da agropecuária no sul da Bahia.

 Segundo Rui Costa, o trabalho de articulação e mobilização do Governo estadual faz parte da política de investir na parcela da população que mais precisa de ajuda e incentivo. "Apostamos no produtor rural, porque acreditamos na escolha dessas pessoas de viver no campo, de viver da sua produção. E comemoramos aqui o fruto de uma negociação entre todos os envolvidos que vai servir como exemplo para todo o país. Estou realizando um sonho e uma missão de devolver ao povo o que é do povo, o que ele precisa e o que ele merece", afirmou o governador, destacando o apoio no avanço da reforma agrária.

Para o atual ministro da Defesa e ex-governador do estado, Jaques Wagner, o Governo Federal está disposto a investir nessas iniciativas apesar de se tratar de um momento economicamente delicado. "Temos um compromisso de um Governo responsável e inteligente para tratar com as questões dos trabalhadores do campo e do Movimento Sem-Terra e, ainda com as adversidades, reconhecemos a importância dessas ações de apostar em quem está construindo um país melhor. Sou otimista de pé no chão e acredito no crescimento econômico que queremos e apostamos", falou Wagner.

 Entre os assentados na propriedade, o agricultor Jarbas de Assis mora com a família produzindo mandioca e feijão. "É muito bom que o poder público perceba e valorize quem quer trabalhar na terra. Muitas propriedades que não estão sendo utilizadas para a produção podem e devem ser ocupadas para desenvolver o sustento de tantas famílias que saem para a cidade e às vezes não têm nem onde morar", falou emocionado.

 Fazenda Colatina

 O Jacy Rocha é o primeiro assentamento resultado de uma negociação firmada entre o Governo estadual, movimentos sociais, as empresas de celuloses do extremo sul e o Instituto Nacional de Reforma Agrária (Incra). Essa é a primeira etapa de um processo de aquisição de terra e emissão de posse para criação de assentamentos que prevê a disponibilização de 30 mil hectares no extremo sul do estado, que pertence a três empresas produtoras de celulose que operam no local, a Fibria, que ofertou a fazenda Colatina, Veracel e Suzano. 

 Para um dos dirigentes do MST na Bahia, Evanildo Costa, esse é um momento de muita emoção. "Minha emoção não é pela emissão de posse para reforma agrária, mas porque isso significa que mais de 200 famílias estão saindo das cidades e voltando para o campo para produzir, acreditando na agricultura como meio de vida. É assim e com o apoio dos governos estadual e federal que vamos caminhar e criar mecanismos como esse para as mais de 25 mil famílias acampadas na Bahia e mais de cem no Brasil", vibrou o dirigente.

 A presidente do Incra, Maria Lúcia Falcón, também comemorou a emissão de posse e aproveitou para anunciar reforços para esse processo. "Vamos nos esforçar ao máximo para que outros eventos aconteçam com mais freqüência. Por isso, estamos autorizando hoje uma força tarefa para fazer uma varredura nas terras do extremo sul, com agrônomos, advogados e técnicos para que, até o final do ano, possamos finalizar os pedidos de pagamento dos 30 mil hectares da região que serão disponibilizados para os assentamentos", contou Maria Lúcia.
Concessão de crédito 

 As famílias assentadas da região ainda foram beneficiadas com mais de R$ 550 mil divididos em duas linhas de créditos. Um deles, o Crédito Instalação, destina R$ 472 mil para 197 famílias do assentamento Rosa do Prado, localizado na cidade. Já no município de Marau, 29 mulheres que são titulares de lotes de assentamento vão receber, juntas, R$ 87 mil, no programa Fomento Mulher, para incentivar a produção liderada por elas. O crédito é fornecido pelo Incra e operacionalizado pelo Banco do Brasil.

 Projeto Assentamentos Sustentáveis

 Os moradores da Fazenda Colatina, além de produzir com o conhecimento passado de geração a geração, agora passam por um processo de qualificação técnica e organizacional para a produção de alimentos com base na agroecologia, com preservação ambiental e uma melhor ocupação do espaço. No local já funciona um Centro de Formação, Educação e Pesquisa que já formou, nos últimos dois anos, mais de 300 pessoas no curso técnico de Agrofloresta e alfabetização de adultos.

 Com a ajuda do projeto, somente em 2014, os assentados arrecadaram R$ 2 milhões de vendas de produtos agrícolas. Para o professor da USP, Paulo Kageyama, esse processo é muito importante para informar e instrumentalizar quem trabalha diretamente com a terra, sendo decisivo para a construção de uma sociedade sustentável.

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